segunda-feira, 16 de agosto de 2010

ARGUMENTO

1. Resumo da história contada pela peça, o argumento (ou expositio argumenti) é fornecido antes do início da peça propriamente dita para informar o público sobre a história que lhe vai ser contada, principalmente no caso do resumo em francês de uma peça em latim (na Idade Média). CORNEILLE, na edição de 1960 de seu teatro, precedeu cada uma de suas peças de um argumento.
ARISTÓTELES sugere ao dramaturgo fazer do argumento o ponto de partida e a idéia geral do drama: “Quer se trate de assuntos já tratados ou de assuntos que a pessoa mesma componha, é preciso, antes de mais nada, estabelecer a idéia geral e só depois fazer os episódios e desenvolvê-los” (Poética, § 1455 b). Em seguida, o poeta poderá estruturar a fábula em episódios, precisando nomes e lugares. Refletir desde o início sobre o argumento obriga a falar de verdades e conflitos universais, a privilegiar a filosofia e o geral às custas da história e do particular (§ 1451 b).

2. Sinônimo de fábula*, mythos* ou assunto, o argumento é a história relatada, reconstituída dentro de uma lógica dos acontecimentos, o significado da fábula (história contada) que se oporá a seu significante (discurso* contante). Certos gêneros teatrais como a farsa* ou a Commedia dell’arte* utilizam o argumento (o canevas*) como texto básico a partir do qual os atores improvisam. Às vezes o argumento é apresentado sob a forma de uma pantomima: assim, em Hamlet, a pantomima precede os diálogos da cena do envenenamento.

3. Como para fábula, às vezes encontramos argumento nos dois sentidos de 1) história contada (fábula como matéria) e de 2) discurso contante (fábula como estrutura da narrativa). Parece mais de acordo com o uso reservar ao argumento o sentido de história contada, independente e anteriormente à ordem de apresentação, isto é, da intriga* (ex: o argumento de Berenice relatado por RACINE no seu prefácio).

(PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro; tradução para a língua portuguesa sob a direção de J. Guinsburg e Maria Lúcia Pereira. São Paulo: perspectiva, 1999, P.23)

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